quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Eu não quero ser cineasta


Frame do vídeo "Águas de maio", de Nelton Pellenz - 2010
Veja o vídeo aqui.
O Festival Vivo arte.mov 2010, na programação deste ano, percorre as macro regiões do Brasil, passando por cinco cidades: Belém, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e São Paulo.

O Tema deste ano é "Novas cartografias urbanas: reconfigurações do espaço público".

Na edição de Porto Alegre do Vivo arte.mov 2010, são discutidos aspectos das linguagens que surgem do cruzamento entre vertentes das artes plásticas, do vídeo e do cinema – todas elas mantendo, contudo, uma caraterística comum: a de escapar da tela em direção ao espaço público.

Dentro da programação que acontece na Usina do Gasômetro, está a mostra de vídeo “Eu não quero ser Cineasta”, com curadoria de Gustavo Spolidoro, que conta com os trabalhos “Peço-lhe que volte e fique contente”, de Dirnei Prates e “Águas de maio”, de Nelton Pellenz, juntamente com vídeos de Luiz Roque, Mariana Xavier, Cristiano Lenhardt, James Zortéa, Letícia Ramos e do coletivo Tentacles Ensemble Collective.

Abaixo, o texto do Gustavo sobre a mostra.

EU NÃO QUERO SER CINEASTA

Muitas vezes, ao criar uma obra audiovisual, o autor não tem a intenção de ser reconhecido enquanto cineasta, de fazer um “filme”. Ele esta apenas experimentando uma linguagem, uma proposta visual, um movimento para a sua obra. Ele não tem essa percepção e muito menos essa pretensão.

Seria ele um naif cinematográfico?

Mas o que dizer quando essas obras transformam a própria linguagem audiovisual, são exibidas em salas de cinema, participam de festivais, são reconhecidas, são premiadas e fazem com que o autor seja chamado de cineasta?

Que arte é essa que permite ser corrompida e recriada por outsiders, impuros, elementos não “autorizados”, pessoas que não são íntimas da técnica, da linguagem e da narrativa audiovisual tradicional?

E que pessoas são essas que ousam fazer filmes, expandir o cinema, fugir dos guetos dos gêneros, chutar o balde da monotonia cinematográfica e desconstruir conceitos, mesmo sem ter essa intenção?

Curiosamente são as mesmas pessoas responsáveis por manter viva a utopia do cinema enquanto arte, enquanto obra capaz de fascinar pelo seu frescor e não por uma repetição fria de fórmulas centenárias.

Ao construir a curadoria desta mostra, tive por princípio dar prazer aos meus sentidos e espero com isso proporcionar o mesmo prazer aos espectadores.

Os nove títulos selecionados são de autores gaúchos (ou que por aqui desenvolveram parte de suas carreiras) com trajetórias coincidentes nas artes visuais e que flertam com o cinema na construção das suas obras.

Não há um interesse puramente audiovisual nos filmes selecionados e talvez isto seja o que mais justifica a existência deles enquanto arte e, principalmente, enquanto cinema.

Pois vejamos...

Gustavo Spolidoro é Professor do Curso de Cinema da PUC/RS,
Coordenador de Curadoria do CineEsquemaNovo e,
dizem por aí, cineasta.



O festival acontece na Usina do Gasômetro, localizada nas proximidades do Lago Guaíba, com intervenções nos jardins do DMAE, dentro dos projetos ligados ao Festival, de 03 a 07 de novembro de 2010http://www.artemov.net/