Em 2003, o professor e pesquisador Arlindo Machado realizou a mostra Três Décadas do Vídeo Brasileiro, estabelecendo como marco inicial da produção videográfica no Brasil o trabalho M 3X3, uma coreografia para vídeo concebida pela bailarina Ana Lívia Cordeiro e gravada pela TV Cultura de São Paulo, em 1973. Segundo Machado, este trabalho é, até prova em contrário, o mais antigo tape da história do nosso vídeo, conservado e acessível para exibição ainda hoje.
Desde então, diversos foram os artistas a explorar as especificidades do formato, e em poucos anos o Brasil já seria reconhecido internacionalmente por suas contribuições à videoarte, graças notadamente ao trabalho de nomes como Éder Santos, Lucas Bambozzi, Arthur Omar e Carlos Nader, entre outros. O Rio Grande do Sul, no entanto, sempre mais resistente às inovações, levou algum tempo para apropriar-se do vídeo e é só a partir da última década que a produção dos videoartistas locais começa a ganhar destaque. Um movimento que coincide justamente com a migração do cinema para museus, galerias de arte e outros espaços expositivos, impulsionada pelo desenvolvimento da tecnologia digital.
“Cinema de museu”, “cinema expandido”, “cinema de exposição” ou “transcinema” são apenas alguns dos termos que a crítica vem utilizando para definir este fenômeno, no qual se insere a exposição Infiltração, com trabalhos que estabelecem um diálogo direto com as experiências dos cinemas de vanguarda levadas a cabo nas décadas de 20 e 30 do século passado. Como se estivessem inspirados pela célebre definição do pioneiro Humberto Mauro, para quem “cinema é cachoeira”, os 32 artistas (não apenas gaúchos) aqui reunidos de certo modo reescrevem este cinema – das pesquisas dos surrealistas às sinfonias da cidade –, num esforço de recuperar a vocação original da imagem em movimento para produzir efeitos poéticos.
Marcus Mello
Crítico de cinema, editor da revista Teorema
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