segunda-feira, 30 de março de 2009

Projeto S.E.C.A.



Projeto S.E.C.A. (Sistema de Encanamento Cine Água)

Distribuição
Fotografia
Dimensões - 1, 00 X 1,50m
2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

IMAGENS RESSIGNIFICADAS


Imagens ressignificadas

Imagens de filmes antigos. Clássicos do cinema. Um filme mudo da década de 20. Um melodrama ou uma comédia musical das décadas de 30 e 40, com Gary Cooper ou Carmen Miranda.
São pequenos fragmentos de narrativas, seqüências de algum filme que você já deve ter visto, que Dirnei Prates se apropria, toma para si e os transforma, criando novas ficções (suas próprias ficções). Em parte como uma homenagem ao próprio cinema, em parte como um exercício do olhar, que percebe os clichês ali presentes, e os destaca, manipulando as imagens e amplificando algum aspecto dessas narrativas. Pode ser um gesto, uma fala, uma expressão. Em filmes curtos, ele tece seu comentário, opera um desvio e cria um novo sentido.
Os artistas têm feito isso há muito tempo. Podemos falar de uma migração das imagens no cinema, conforme J.C.Bernardet ou de apropriação, procedimento que surge com os artistas das primeiras vanguardas, junto com as colagens e fotomontagens. Mas há nesta série, Ficções apropriadas, uma clara conexão e uma relação que podemos estabelecer, dentro do campo do cinema, com os filmes de found-footage, cujo essencial, segundo Udo Jacobsen é “abrir um material já existente para novos significados ou descobrir eventuais significados ocultos na própria imagem”. Os filmes de Dirnei tem uma relação estreita com esta tradição, especialmente com o trabalho de Martin Arnold.
O found-footage tem sua origem nos filmes da cineasta russa Ester Schub, que em 1927 realiza A queda da Dinastia Romanov, documentário feito partir da pesquisa de filmes de arquivo da Rússia Czarista. Passa pela obra de Joseph Cornell, artista da vanguarda que realiza “Rose Hobart” em 1936 - uma homenagem a esta atriz, feito a partir da “colagem” de cenas de diferentes filmes em que ela atua. Nos anos 60 e 70, vários artistas do cine experimental trabalham com essa prática, do excelente Crossroads de Bruce Conner, passando pela obra de Ken Jacobs e Ernie Gehr. Nos anos 80 e 90 podemos citar artistas como Matthias Muller e Peter Tscherkassky. E há ainda a obra 24-Hour Psycho, de Douglas Gordon, feita para um espaço de exposição onde é exibido em várias telas, em que o filme clássico de Alfred Hitchcock tem sua duração alterada.
Ficções apropriadas nasce de filmes antigos comprados do acervo de fitas vhs de sua locadora ou assistidos na tv a cabo e cujas imagens são capturadas digitalmente, mantendo no entanto, toda textura do vhs. Mas o mais importante nessa prática, é o olhar de Dirnei, que tem o desejo de manipular essas imagens e que está atento para escolher aqueles trechos de filmes em que se percebe um sentido além do óbvio, além do que está evidente, como diria Barthes. Ele escolhe fragmentos em que há um algo a mais, algo que o interroga. Esses pequenos trechos podem ser alguns planos retirados de um filme e remontados, ou uma seqüência inteira. Em Delilah, fica preservada quase a mesma decupagem da sequencia original: a patroa pede a típica empregada negra, simpática e alegre, que mostre seu sorriso para um fotógrafo, sorriso com o qual ela pretende vender suas panquecas... Dirnei acrescenta e intercala várias vezes na montagem original o plano de Delilah sorrindo, cuja reiteração mostra e reforça a ironia e o inusitado da situação. Crítica a um sistema de imagens e a uma mídia que ainda trabalha com os clichês da figura do negro na cultura.
Já em Sertão, a interferência que Dirnei faz nas imagens se dá na alteração da velocidade da cena em que o personagem vai ser arrastado pelas águas de uma represa. As imagens são ralentadas e são acrescentados gemidos que reforçam a expressão do ator, entre dor e gozo - e que no original, mudo, é acompanhado apenas da música. O título nesse trabalho dá outra dimensão às imagens, abrindo para outras leituras.
As interferências e ruídos que Dirnei acrescenta nestes vídeos, como ele mesmo afirma, tem a intenção de propor um outro caminho para o filme, e sugerir-nos um outro sentido.
Artista que começa com a fotografia, trabalha já há alguns anos com vídeo, participando de salões de arte contemporânea, mostras e festivais de filmes experimentais no Brasil, inclusive com obras premiadas. Nos primeiros filmes que vi de Dirnei, por volta de 2006, o que me impressionou foi a força da imagem e das suas narrativas. Em Timor Mortis Conturbat Mea, há uma torrente de imagens que nos envolve sensorialmente em uma narrativa fragmentada e que nos dá uma outra percepção do tempo, um tempo descontínuo. Paisagens, pequenos momentos do cotidiano, são associados de forma livre. São imagens feitas com celulares ou câmeras vhs, de baixa resolução, mas cujo grão proporciona uma textura e uma crueza admiráveis.
Nos trabalhos de Dirnei e em sua prática artística percebem-se algumas convicções. O fato de se utilizar de imagens de outros filmes, feitas por outros artistas, vem dessa certeza de que se já há tantas imagens no mundo, porque filmar mais? Em relação à tecnologia, há esse desprendimento de utilizar imagens com baixa resolução, que convivem com equipamentos digitais de edição e de trabalho com a imagem. O que importa é a imagem e o que ela nos provoca. Esteticamente, afirma a opção por uma imagem com ruídos, uma imagem tátil. Mas também, imagens e narrativas, capazes de nos afetar, de nos fazer parar e pensar um pouco sobre o que estamos vendo.
Num momento em que cada vez mais os artistas trabalham com o vídeo, nesta exposição podemos ver uma obra particular e fruto de uma pesquisa promissora. Dirnei partilha conosco suas pequenas homenagens ao cinema, seu olhar e suas interrogações sinceras.



Marcelo Gobatto
Doutorando em Poéticas Visuais / UFRGS




sábado, 21 de março de 2009

S.E.C.A.


projeto S.E.C.A. (Sistema de Encanamento Cine Água)

Ligações Expostas # 3
fotografia polaroid
dimensões 10,5x18 cm
2009

Tela Branca

Tela Branca (instalação)

O trabalho consiste em uma instalação onde, numa sala escura, diante de uma tela branca, o espectador, munido de fones, ouve fragmentos de diálogos diversos que foram extraídos de alguns filmes* que assistimos e que, em comum, tratam da água ou da ausência dela como assunto (em suas mais diferentes formas) Os diálogos, em várias línguas, estão dispostos de maneira a formar uma grande colcha sonora, que é permeada por sons de chuva, rios e mares.
A “Tela Branca” é uma porta aberta onde o espectador, a partir das sensações causadas pelos sons e pelos fragmentos de diálogos, cria sua própria ficção.
A instalação “Tela Branca” faz parte da exposição Cine Água, que acontecerá na galeria Lunara, Usina do Gasômetro, em outubro/2009, em Porto Alegre.


Tela branca (vídeo)

“Filme com parentesco albino com um clássico livre recente, “O Cego Estrangeiro”, de Marcius Barbieri, porém ainda mais livre, desconstruído e assumindo uma estética de “erro”. O espectador que não entenda! Ou melhor, que entenda o que bem quiser! (KZL) MFL/2009”

O vídeo “Tela Branca” é uma variação da instalação, agora em formato channel, para exibição em tela ou TV.
A idéia de exibição de um filme sem sua matéria principal, a imagem, nos pareceu bastante singular. Mesmo os diálogos são descompromissados de qualquer ordem ou sentido que não seja a citação à água e suas formas.
A experiência do deslocamento de espaço que a obra sofre, interessa-nos no sentido de gerar novas expectativas e entendimentos para o trabalho em um público acostumado a um único formato de exibição e a algumas premissas básicas.
“Tela Branca” propõe, num território cada vez menos regrado do cinema, uma experiência coletiva e inusitada de muito envolvimento sensorial.
O vídeo foi selecionado e indicado ao prêmio “Filme Livre”, na Mostra do Filme Livre, que acontece em abril/2009 no C.C.B.B. Rio de Janeiro/RJ
http://www.mostradofilmelivre.com/info.php?c=2782

* Houve uma vez dois verões – Jorge Furtado, O Céu que nos protege – Bernardo Bertolucci, Feios, Sujos e Malvados – Ettore Scola, Trainspotting – Danny Boyle, O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante – Peter Greenaway, Volver – Pedro Almodóvar, A Rosa Púrpura do Cairo – Woody Allen e Ladrão de Sonhos – Jeunet & Caro

fragmento do vídeo

domingo, 8 de março de 2009

30 SEGUNDOS DE INFILTRAÇÃO - por Kika Nicolela

30 SEGUNDOS DE INFILTRAÇÃO

A partir de hoje, toda semana colocaremos 30 segundos de infiltração, que como o nome já diz, será um breve deleite dos trabalhos que fazem parte da mostra.

Projeto Infiltração


O projeto teve início a partir de nossas conversas no atelier, sobre a produção em vídeo de alguns artistas que incluíam a água em seus trabalhos, e como estes dialogavam com algumas proposições do Cine Água. Conversávamos também a respeito da continuidade de um outro projeto nosso: a LIVRE – Mostra de Vídeos Experimentais, que começamos em 2006, mas que ainda tínhamos dúvidas quanto ao formato da nova edição (em 2006, a Livre foi exibida num vão de escada do Centro Municipal de Cultura e, em 2007, na sala de cinema P.F. Gastal, na Usina do Gasômetro; contou, em cada uma delas, com a participação de 16 videoartistas).
Infiltração nasceu mais ou menos dessas duas inquietações: o contato com uma produção emergente em vídeo, que tencionava nosso trabalho, e a vontade de exibir estas obras de uma forma não muito ortodoxa.
Acreditamos que o título da exposição não poderia ter sido mais apropriado para definir a maneira como se dará esta ocupação: a exibição de vídeos com a temática água em monitores de TV “infiltrados” em 4 galerias públicas*, concomitantemente com as exposições que estarão acontecendo nestes espaços.
Nesta mostra serão exibidos 32 vídeos, entre trabalhos já realizados sobre o tema e outros inéditos, feitos especialmente para a exposição.
Os artistas participantes, que gentilmente embarcaram neste projeto, são; Biah Werther (RS), Camila Mello (RJ), Carlo Sansolo (RJ), Cláudia Paim (RS), Christian Caselli (RJ), Cristiana Miranda (RJ), Cristiano Lenhardt (PE), Cristina Ribas (RJ), Dellani Lima (MG), Dirnei Prates (RS), Eny Schuch (RS), Érika Fraenkel (RJ), Helvécio Marins Jr. (MG), James Zortéa (RS), Joacélio Batista (MG), Kika Nicolella (SP), Lia Letícia Leite (RS), Louise Ganz (MG), Lucas Bambozzi (MG), Luiz Roque Filho (RS), Manuela Eichner (RS), Marcellvs L. (MG), Marcelo Gobatto e Juliano Ambrosini (RS), Maurício e Rachel Castro (RJ), Nadam Guerra (RJ), Nelton Pellenz (RS), Niúra Borges (RS), Pablo Paniágua (RS), Paula Barreto (RJ), Ricardo E. Machado (PR), Rochele Zandavalli (RS) e Sônia Guggisberg (SP).

* Galeria do DMAE, Centro Municipal de Cultura, Usina do Gasômetro, Paço Municipal