domingo, 26 de junho de 2011

O texto abaixo foi escrito por Maria Amélia Bulhões, pesquisadora e doutora em artes visuais, e publicado no jornal on line Sul21.

"Marestesia
Hoje, trataremos de uma exposição de pequeno porte, intimista e que pede ao espectador um mergulho em seu universo poético. Literalmente um mergulho, uma vez que seu tema é o mar. Marestesia, como o próprio nome sugere, nos propõe a experiência da estesia (percepção sensorial, faculdade de sentir; sensibilidade, sentimento do belo) a que o mar induz. Ela está sendo apresentada na Galeria de Arte da Fundação ECARTA (instituição do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS, na Av. João Pessoa, 943), aberta de terça a sexta das 10h às 19h, sábados das 10h às 20h e domingos das 10h às 18h.

A exposição é composta por dois vídeos de Nelton Pellenz e pequenas imagens fotográficas, organizadas como cadernos ou livros, de Dirnei Prates. Os dois artistas trabalham juntos há bastante tempo no coletivo Cine Água, estabelecendo uma relação entre cinema e artes visuais, e que tem a água como fio condutor das ideias. Eles realizam propostas em vídeo, fotografia, instalações e intervenções urbanas. Participam e organizam mostras de cinema expandido em espaços pouco ortodoxos, tendo recebido inúmeros prêmios por seu trabalho. O coletivo Cine Água dispõe de um blog, onde podem ser vistos vários vídeos, assim como no site. Vale a pena visitar e conhecer um pouco mais do trabalho destes artistas. No You Tube também é possível assistir vários vídeos de Nelton Pellenz e Dirnei Prates e, observar a qualidade técnica e poética de seu trabalho, que encantou unanimemente o júri de seleção das exposições para os espaços da Funarte em 2010.

A fotografia e o vídeos introduziram-se no contexto das artes visuais em um longo processo que, no caso da fotografia remonta ao final do século 19, e, no caso do vídeo, ao final da década de 60. Ambos os meios estiveram originalmente associados às correntes de vanguarda, e serviram de base para muitos experimentos técnicos, formais e expressivos. Mesmo que estes recursos técnicos encontrem-se, hoje, amplamente disponíveis, com câmaras portáteis de uso doméstico, práticas e de fácil utilização, a manutenção de seu caráter experimental ainda permeia o uso da fotografia e do vídeo no campo das artes visuais. Tendência esta que Prates e Pellenz exploram, na expansão de suas ferramentas e de seus repertórios conceituais, para construir uma poética original e envolvente.

Na exposição Marestesia, dois vídeos são apresentados, simultaneamente em uma sala escura. Um, em tons de azul, propõe a experiência do pleno mar. Tendo sido filmado a partir do lugar onde as ondas batem, eles oferecem uma visualidade de mar adentro, totalmente envolvida por água. O outro, mais noturno, em tons de marrom terroso, evoca águas paradas, apresentando imagens de uma rua inundada, onde, em imperceptíveis momentos, algumas sombras se movimentam. Os livros da exposição se apresentam em duas versões: – o primeiro, minúsculo, apresenta inúmeras imagens de um farol e, quando folheado rapidamente, da a sensação de que o mar se movimenta. O outro apresenta nadadores no mar e, com o movimento das folhas, altera as imagens, também sugerindo movimento. Em seu conjunto, as obras partem do registro de situações corriqueiras, que assumem o papel de um inventário de deslocamentos pelo litoral, tendo sempre como foco o mar e o movimento.Bastante singela em sua montagem, a mostra encanta pela capacidade de envolvimento do espectador a que se propõe e que efetivamente alcança.

Precisamos evitar uma postura colonizada de pensar sempre que arte é o que vemos fora daqui, nos grandes centros culturais do país e do mundo. Dedicar atenção à produção local, de qualidade e muito rica em sua diversidade, em pequenas mostras, pode ser uma maneira prazerosa de oferecer ao nosso olhar a oportunidade de devaneios poéticos, tão raros em nosso atribulado cotidiano.

Maria Amélia Bulhões"

terça-feira, 21 de junho de 2011

Marestesia


foto da abertura feita com câmera Lomo Diana F


No dia 18 de junho, abriu a nossa mostra Marestesia, na galeria da Fundação Ecarta. Os trabalhos apresentados na exposição, compostos por vídeos e livros, partem do registro de situações corriqueiras que, a partir desta distinção, assumem o papel de um inventário dos nossos deslocamentos pelo litoral.
Marestesia faz parte de um projeto maior chamado Google Water, que consiste em deslocamentos que fazemos até cidades que tem a água, de alguma forma, no nome. Mapeamos estes locais e então partimos com a finalidade de realizarmos uma ação temporária ou algum tipo de registro que vá gerar um desdobramento do trabalho. Nesta mostra, estão os resultados das visitas feitas à praia da Barra da Lagoa, em SC

Sobre os trabalhos:
O remêmoro – a câmera parada, uma lembrança momentânea e sem cortes de uma manhã de janeiro.

Grandes Eventos - Dirnei Prates
foto: Igor Sperotto
Grandes eventos – uma bandeira vermelha, um navio ancorado, um mirante. As balizas diárias que se erguem contra a horizontalidade desta tarde, são iscas que prendem meu olhar. Penso num filme de Jarman.*

Grandes acontecimentos – o mar e seu movimento imprecisamente constante. O mar nunca é igual. Folhear o livro é tentar traduzir a situação de inconstância das marés.

Mar passando – o mar passou por aqui a menos de 10 minutos.

Águas de maio – à noite, sob a chuva, é preciso bem mais do que um simples olhar. Percebo o vai e vem dos transeuntes e a poça d'água. Todos os sentidos e experiências anteriores estão convidados para este momento.


Azul profundo – no fim da tarde do fim do verão, o mar, de tão intenso, absorveu os incautos surfistas. O que antes era certeza, agora é uma melancolia azul-profundo que aos poucos me envolve.
*Journey to Avebury, 1971

Azul Profundo - Nelton Pellenz




















Marestesia , registros da abertura

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Registro da abertura da exposição Marestesia, do Cine Água na Fundação Ecarta, dia 18.06.2011.
As imagens foram feitas com câmera Lomo Diana F, filme 35mm e flash com gelatina colorida.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Marestesia

Parece-nos que disparadas são inúteis.
Correr ou fruir o percurso, sob o ponto de vista do tempo, é a mesma coisa. Estamos então, numa auto pista, sem noção do tempo que nos espera; somente com uma noção de certeza da chegada, invariavelmente no momento da chegada, e em nenhum outro momento.
Sentamos sob a sombra desta palmeira, deitamos na cama macia dos dias de chuva, somos refrigerados pelo ar condicionado do carro que nos leva para o mar, fumamos cigarros, experimentamos levezas percorrendo dunas meio enluaradas nas noites de verão.
Sentimos a porta aberta e é necessário que haja um momento de inércia para que as coisas simples e cotidianas destes momentos entrem por esta porta, e possam ser sentidas com toda a sua carga.
O mar nos contempla, o sol sob a cabeça, o dia está mais azul... nós sentimos.

Dirnei Prates e Nelton Pellenz