domingo, 23 de outubro de 2011

Caos e Efeito

Uma nova maneira de ver e pensar a vida e a arte contemporâneas brasileiras. A exposição Caos e Efeito, em cartaz no Itaú Cultural a partir de 23 de outubro, explora temáticas que serão abordadas nesta década que se encerra em 2020. A intenção é lançar um olhar abrangente sobre a produção nacional no campo das artes visuais e trazer à tona temas imersos nas questões – e inquietações – do mundo atual. A mostra traz a visão de cinco dos mais atuantes curadores do país: Fernando Cocchiarale, Lauro Cavalcanti, Moacir dos Anjos, Paulo Herkenhoff e Tadeu Chiarelli, escolhidos entre os 10 que realizaram mais mostras na década passada, segundo pesquisa do instituto. A exposição abriga aproximadamente 150 obras – entre pinturas, fotografias, instalações e vídeos – de 81 artistas, entre os quais Dirnei Prates, com o vídeo o remêmoro e Nelton Pellenz, com  o vídeo azul profundo.

Sobre a mostra
Fernando Cocchiarale – em cocuradoria de Pedro França – demonstra em seu recorte curatorial a crítica embutida nos processos de concepção, produção da obra e sua inserção no sistema artístico. Artistas: Alumbramento Coletivo de Cinema, Anna Bella Geiger, Cadu, Daniel Santiago/Paulo Brusky, Ducha, Eduardo Berliner, Fabiano Gonper, Felipe Kaizer, Franz Manata & Saulo Laudares, Graziela Kunsch, Grupo Rex, Letícia Parente, Maria Helena Bernardes & André Severo, Matheus Leston, Michel Groisman, Nelson Leirner, Nervo Óptico, Vitor Cesar.

O curador Lauro Cavalcanti e o cocurador Felipe Scovino optaram por contextualizar, historicamente, a construção de uma linguagem artística brasileira, cosmopolita e internacional. Artistas: Alexandre Wollner, André Komatsu, Antonio Dias, Chacal, João Loureiro, Lucia Koch, Lygia Pape, Marcel Gautherot, Matheus Rocha Pitta, Nelson Leirner, Peter Scheier, Rafael Alonso, Rogério Sganzerla, Vicente Ferraz.

Moacir dos Anjos, em parceria com a cocuradora Kiki Mazzucchelli, selecionou obras que enfatizam o cotidiano, rompendo hierarquias entre o terreno da produção artística e o âmbito em que se desenrola a vida comum. Artistas:Alexandre Da Cunha, Bruno Lagomarsino, Jarbas Lopes/Tetine, Lygia Pape, Marepe, Paulo Nazareth, Renata Lucas, Rivane Neuenschwander, Sara Ramo, Waléria Américo.

A tênue linha entre o documental e o ficcional é o fio condutor da curadoria de Tadeu Chiarelli, com assistência curatorial de Luiza Proença e Roberto Winter. Artistas: Alberto Bitar, Alexandre Vogler, Chico Zelesnikar, Dirnei Prates, Felipe Cama, Fernando Piola, Guga Ferraz, Lais Myrha, Lenora De Barros, Nelton Pellenz, Patrícia Osses, Rafael Carneiro, Ridley Scott, Rosângela Rennó, Rubens Mano.

Por último, Paulo Herkenhoff e os cocuradores Cayo Honorato, Clarissa Diniz e Orlando Maneschy propõem um estado de “não pureza conceitual”, na qual se pode apontar nos trabalhos apresentados algumas perspectivas em comum, como a “libido intratável”, a ”deposição do sujeito como lugar de poder” e a “violentação política da violência”. Artistas: Armando Queiroz , Berna Reale, Coletivo Madeirista, Daniel Lisboa, Daniel Santiago, Edson Barrus, Fernando Peres, Grupo Empreza, Grupo Urucum, Jayme Figura, Jonathas De Andrade, Jonnata Doll, Juliano Moraes, Lourival Cuquinha, Mariana Marcassa, Miguel Bezerra, Moacir, Oriana Duarte, Paulo Meira, Pitágoras Lopes, Solon Ribeiro, Thiago Martins de Melo, Victor de la Roque, Wolder Wallace, Yuri Firmeza.

Mais informações: Itaú Cultural

sábado, 3 de setembro de 2011

AQUAPLAY - Galeria Iberê Camargo

detalhe do trabalho "grandes acontecimentos" de Dirnei Prates

Na exposição Aquaplay, aberta no dia 01 de setembro na Galeria Iberê Camargo, Usina do Gasômetro, apresentamos um conjunto de trabalhos ambientados no litoral, que brincam com conceitos da fotografia e seus sistemas de representação e apreensão. Através de recortes, justaposições, limites e passagens, os vídeos e fotografias presentes na mostra, procuram estabelecer um jogo onde a ideia do “instante decisivo” é constantemente subvertida.
CONJUNÇÕES DE LINGUAGENS ENTRE A FOTOGRAFIA E VÍDEO NA EXPOSIÇÃO AQUAPLAY

De um lado, a imagem imóvel; de outro, a imagem em fuga – e, entre estas, um jogo de conjunções de linguagens que aproximam os trabalhos em fotografia e em vídeo de Dirnei Prates e Nelton Pellenz. No conjunto, a água como matéria visual.

Passagens, limites, cortes e justaposições são as questões que reverberam entre os trabalhos fotográficos Grandes Acontecimentos, 2011 e Aqui, 2011, de Dirnei Prates. Para o primeiro, o artista captou imagens de orlas do mar veiculadas a partir de um monitor de televisão, formando um conjunto composto por quatro livros de pequenos formatos. Estes são dispostos de modo que, ao manusear as páginas para frente ou para trás, se podem construir diversas justaposições de paisagens panorâmicas, conectadas pela linha do horizonte e pelo intenso cromatismo. É como se o artista criasse várias pausas de uma sequência de diversos fotogramas de um filme.

Em Grandes Acontecimentos, apesar da linha vertical, o olhar escorrega entre as imagens pela potência das formas das paisagens, mas em Aqui o artista cria zonas de contenção para o olhar. A estratégia de justaposição de imagens, também herdada de outras obras anteriores do artista, reverberou na constituição de Aqui. Os seis trabalhos dessa exposição apresentam a mesma paisagem de fundo, porém as figuras não são as mesmas. Não é o fotógrafo que se desloca na busca dos acontecimentos, mas são estes que vêm até ele. Os transeuntes são sequestrados assim que cruzam na frente da lente da câmera, fixada num ponto da paisagem.

Se a forma de capturar as imagens pode lembrar a ideia do “instante decisivo”, o procedimento de montagem quebra essa noção do melhor momento do registro, pois o artista parece colocar em ruína aquela noção da fotografia. Com as fotografias ampliadas, Dirnei secciona os corpos das figuras, a exemplo do que fazia Degas em suas pinturas, e justapõe esses corpos a outros corpos igualmente seccionados da outra imagem, como para evidenciar um tempo fraturado. Assim, cria nessas figuras um “punctum” que fisga o olhar, deixando a percepção da paisagem para um segundo momento. A linha vertical de interstício entre as imagens conduz às figuras decepadas, e estas funcionam como zonas de contenção para a continuidade visual em sentido paradoxal ao fundo da paisagem. Isso reforça a ideia de limite e de bordas. É como se as bordas, os elementos da periferia da imagem usurpassem a nobreza do centro da composição, propondo uma derrota ao olhar viciado na tradição do bom enquadramento. As noções de bordas e limites não se referem apenas a aspectos formais se for lembrado que o conteúdo temático das imagens mostra a delimitação entre o mar e a terra.

Uma aderência muito próxima do trabalho Aqui é o vídeo Neste mesmo lugar, 2010, de Nelton Pellenz, devido à acentuada genética fotográfica na concepção e na apresentação. Sobre um mesmo fundo de água e de montanha da Lagoa da Conceição, em Santa Catarina, em intervalos de tempos, instantâneos fotográficos de pessoas e árvores aparecem e desaparecem repentinamente sobre a paisagem, ao som de um clique fotográfico. O dispositivo de edição gera o quadro a quadro, o que impregna as imagens de referência à imobilidade da fotografia. Porém, há uma sensação de velocidade pelo único sentido como as imagens correm sobre a paisagem, pela tremulação do fundo, tudo isso corroborado pelo som de um trem em movimento.

Impregnado de evidência fotográfica também é o vídeo de Pellenz, Neste outro lugar, 2010. Ao colocar a câmera no nível da areia, uma grande tomada estática em primeiro plano superdimensiona a imagem. Não é foto, mas a tomada fixa e quase inerte desse plano é da ordem do fotográfico. Ao contrário do outro vídeo, a ação ocorre na borda da linha do horizonte, onde cabeças de figuras transitam como pontos no espaço até serem atingidas por um som de tiro ao alvo, como num jogo. Sons metálicos, em alusão aos filmes de ficção científica dos anos de 1960, e rajadas de vento intensificam um clima enigmático. O silêncio visual desse amplo primeiro plano é quebrado de vez em quando por pequenos insetos, que fazem ligeiras aparições, e pela passagem da escuridão à luz, o que pode lembrar a forma como uma imagem vai se revelando ao olhar durante o processo químico no laboratório fotográfico. Mas depois volta a escuridão, possivelmente para pontuar a trajetória do tempo. Os vídeos jogam com a fixidez e a mobilidade do tempo da imagem.

O vídeo Pretérito Eu, Pretérito Tu, 2011, de Pellenz e Prates, evidencia outro sintoma dos diálogos entre vídeo e fotografia através de recursos de natureza fotográfica: cada fragmento das imagens do vídeo de registros de praias é intercalado pela simulação do abre-e-fecha da cortina do obturador da câmera fotográfica, e uma caixa de madeira semelhante à antiga câmera fotográfica caixote é utilizada como suporte para exibição do vídeo, fazendo jus ao título como algo do passado. Essas aproximações entre vídeo e fotografia bem poderiam lembrar a noção do Entre-Imagens de Raymond Bellour.

Se a imagem de água alude a movimento e fluidez, paradoxalmente, a imobilidade da fotografia a congela, mas o vídeo resgata a sua natureza inquietante de mobilidade. Aqui, Grandes acontecimentos, Pretérito Eu, Pretérito Tu, Neste mesmo Lugar e Neste Outro Lugar parecem irrigar-se uns aos outros através das conjunções de suas identidades.


Niura Legramante Ribeiro
Crítica de arte e professora na Universidade Feevale e no Atelier Livre
Doutoranda, PPG-AVI, UFRGS e Mestre em Artes, ECA/USP



 








imagens do vídeo "Pretérito eu, pretérito tu"

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Paula Ramos sobre a exposição Cartão de Visita

Textos com seriedade sobre arte e exposições locais são tão raros de se ler nos jornais, que ficamos super felizes de participar de um destes poucos momentos.

Abaixo, texto de autoria de Paula Ramos publicado no jornal zero hora, sobre a exposição Cartão de Visita, na Galeria Gestual de 13 de agosto a 03 de setembro de 2011

Cartão de Visita

Cartão de Visita: uma apresentação


O cartão de visita é um documento objetivo que atende a prática social de apresentar seu portador a um receptor. Sua função é dar a conhecer alguém, fornecendo dados de conservação e de consolidação desse conhecimento a outrem. Cartão de Visita é um projeto, desenvolvido em parceria com a Galeria Gestual, que tem por fim apresentar ao público quatro artistas emergentes

Bruno Borne, Dirnei Prates, Marília Bianchini e Nathalia García

Os valores que nos levam a apresentá-los são a consistência de suas pesquisas visuais, a elevada invenção dos seus dispositivos e a qualidade evidente de suas obras. Agregados a estes valores temos algumas virtudes, tais como a contemporaneidade das linguagens e dos suportes utilizadas – vídeo, fotografia e instalação –, além do reconhecimento que eles já têm dentro do protegido circuito acadêmico. Todos esses predicados: valores, virtudes e reconhecimento nos autorizam esta iniciativa, pois apresentar, consolidar e resgatar nossos valores artísticos é a função que escolhi como modus operandi há vinte anos, ao iniciar-me no campo das artes visuais. Mais do que uma prática profissional este princípio ético tornou-se um modus vivendi, uma duração de incontestável prazer e inquestionável riqueza, que agora comemoro apresentando-lhes orgulhosamente, neste Cartão de Visita, quatro jovens artistas.

Paulo Gomes

Agosto 2011


Os trabalhos podem ser vistos em http://www.gestual.com.br/templates/expo_cartaovisita.htm


Zona de neutralidade na galeria Gestual

Zona de neutralidade


           O trabalho consiste em apropriações de fragmentos de fotografias, que me marcaram ao longo dos anos. São imagens importantes na história da fotografia, facilmente reconhecidas quando vistas. Retiro destes cenários icônicos os coadjuvantes que aparecem, quase sempre incautos, na cena. Estes personagens, contidos numa zona neutra da fotografia (lugar oposto ao assunto do primeiro plano), assumem o foco principal, criando narrativas que os desprendem do contexto de onde foram subtraídos.
           Dirnei Prates

Exposição coletiva Cartão de Visita, na galeria Gestual


As imagens foram extraídas das fotos abaixo:
1-Child with toy grenade in Central Park – 1962- Diane Arbus
2- Whitby Yorkshire – 1978 – Ian Berry

domingo, 7 de agosto de 2011

sábado, 2 de julho de 2011

Convite à contemplação do cotidiano

Nesta semana, no dia 29 de junho, Érica Gonsales publicou uma matéria sobre o Coletivo Cine Água no blog do The Creators Project.  Um dos principais objetivos do Projeto é, além de apontar talentos criativos em arte e tecnologia, propor reflexões sobre os caminhos que a cultura segue em um parâmetro global.

O texto abaixo foi extraído da matéria publicada no site.

"O Cine Água cria obras aparentemente simples e singelas. Eles crêem que a beleza do cotidiano merece ser contemplada e, para atrair o seu olhar, tratam de emoldurar esses pequenos momentos. “Parece-nos que disparadas são inúteis”, escrevem em seu blog. “Sentamos sob a sombra desta palmeira, deitamos na cama macia dos dias de chuva, somos refrigerados pelo ar condicionado do carro que nos leva para o mar, fumamos cigarros, experimentamos levezas percorrendo dunas meio enluaradas nas noites de verão. Sentimos a porta aberta e é necessário que haja um momento de inércia para que as coisas simples e cotidianas destes momentos entrem por esta porta, e possam ser sentidas com toda a sua carga.”

O artista Dirnei Prates admite que os trabalhos do coletivo precisam de algum tempo para serem entendidos e absorvidos. “É o tempo da contemplação”. Ele e Nelton Pellenz, ambos gaúchos de Porto Alegre, elegeram a água como elemento essencial de inspiração e ligação de suas fotografias, vídeos e instalações.

Atualmente a dupla está com a exposição Marestesia na Fundação Ecarta, que reúne dois vídeos de Nelton e imagens fotográficas, organizadas como cadernos ou livros, de Dirnei. No video Azul Profundo uma câmera fixa — linguagem recorrente nos trabalhos do diretor — registra em plano fechado o movimento das ondas. Em muitos momentos, as imagens se tornam abstratas, mantendo o sentimento de fluidez, abstração e mistério que o mar desperta.


Nelton já dirigiu diversos curtas, como o premiado pela Mostra Filme Livre, Passarim, em 2007. Na mesma Mostra o parceiro Dirnei saiu vencedor no ano seguinte, com o curta Tripulante. Ano passado, os dois ganharam o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, com a exposição Salas de Chuva. O intuito era “deslocar o espectador da ideia de assimilação rápida, própria da cultura virtual”, conforme dito no site da Funarte.


Neste caso a dupla lançou mão não apenas de vídeos produzidos por eles, mas também imagens de filmes clássicos reeditadas em outro contexto. Nelton, por exemplo, se apropria da famosa cena do filme Cantando na Chuva, em que Gene Kelly canta e dança com o guarda-chuva em punho, enquanto Dirnei elegeu a tempestade que antecede o crime principal em Psicose, de Alfred Hitchcock. Paralelamente, monitores instalados no chão exibiam uma longa sequência de pingos d’água em pequenas poças até que um ruído surpreende o espectador. “A ideia é criar um antagonismo entre o que se vê e o que se ouve”, explica Nelton."

domingo, 26 de junho de 2011

O texto abaixo foi escrito por Maria Amélia Bulhões, pesquisadora e doutora em artes visuais, e publicado no jornal on line Sul21.

"Marestesia
Hoje, trataremos de uma exposição de pequeno porte, intimista e que pede ao espectador um mergulho em seu universo poético. Literalmente um mergulho, uma vez que seu tema é o mar. Marestesia, como o próprio nome sugere, nos propõe a experiência da estesia (percepção sensorial, faculdade de sentir; sensibilidade, sentimento do belo) a que o mar induz. Ela está sendo apresentada na Galeria de Arte da Fundação ECARTA (instituição do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do RS, na Av. João Pessoa, 943), aberta de terça a sexta das 10h às 19h, sábados das 10h às 20h e domingos das 10h às 18h.

A exposição é composta por dois vídeos de Nelton Pellenz e pequenas imagens fotográficas, organizadas como cadernos ou livros, de Dirnei Prates. Os dois artistas trabalham juntos há bastante tempo no coletivo Cine Água, estabelecendo uma relação entre cinema e artes visuais, e que tem a água como fio condutor das ideias. Eles realizam propostas em vídeo, fotografia, instalações e intervenções urbanas. Participam e organizam mostras de cinema expandido em espaços pouco ortodoxos, tendo recebido inúmeros prêmios por seu trabalho. O coletivo Cine Água dispõe de um blog, onde podem ser vistos vários vídeos, assim como no site. Vale a pena visitar e conhecer um pouco mais do trabalho destes artistas. No You Tube também é possível assistir vários vídeos de Nelton Pellenz e Dirnei Prates e, observar a qualidade técnica e poética de seu trabalho, que encantou unanimemente o júri de seleção das exposições para os espaços da Funarte em 2010.

A fotografia e o vídeos introduziram-se no contexto das artes visuais em um longo processo que, no caso da fotografia remonta ao final do século 19, e, no caso do vídeo, ao final da década de 60. Ambos os meios estiveram originalmente associados às correntes de vanguarda, e serviram de base para muitos experimentos técnicos, formais e expressivos. Mesmo que estes recursos técnicos encontrem-se, hoje, amplamente disponíveis, com câmaras portáteis de uso doméstico, práticas e de fácil utilização, a manutenção de seu caráter experimental ainda permeia o uso da fotografia e do vídeo no campo das artes visuais. Tendência esta que Prates e Pellenz exploram, na expansão de suas ferramentas e de seus repertórios conceituais, para construir uma poética original e envolvente.

Na exposição Marestesia, dois vídeos são apresentados, simultaneamente em uma sala escura. Um, em tons de azul, propõe a experiência do pleno mar. Tendo sido filmado a partir do lugar onde as ondas batem, eles oferecem uma visualidade de mar adentro, totalmente envolvida por água. O outro, mais noturno, em tons de marrom terroso, evoca águas paradas, apresentando imagens de uma rua inundada, onde, em imperceptíveis momentos, algumas sombras se movimentam. Os livros da exposição se apresentam em duas versões: – o primeiro, minúsculo, apresenta inúmeras imagens de um farol e, quando folheado rapidamente, da a sensação de que o mar se movimenta. O outro apresenta nadadores no mar e, com o movimento das folhas, altera as imagens, também sugerindo movimento. Em seu conjunto, as obras partem do registro de situações corriqueiras, que assumem o papel de um inventário de deslocamentos pelo litoral, tendo sempre como foco o mar e o movimento.Bastante singela em sua montagem, a mostra encanta pela capacidade de envolvimento do espectador a que se propõe e que efetivamente alcança.

Precisamos evitar uma postura colonizada de pensar sempre que arte é o que vemos fora daqui, nos grandes centros culturais do país e do mundo. Dedicar atenção à produção local, de qualidade e muito rica em sua diversidade, em pequenas mostras, pode ser uma maneira prazerosa de oferecer ao nosso olhar a oportunidade de devaneios poéticos, tão raros em nosso atribulado cotidiano.

Maria Amélia Bulhões"

terça-feira, 21 de junho de 2011

Marestesia


foto da abertura feita com câmera Lomo Diana F


No dia 18 de junho, abriu a nossa mostra Marestesia, na galeria da Fundação Ecarta. Os trabalhos apresentados na exposição, compostos por vídeos e livros, partem do registro de situações corriqueiras que, a partir desta distinção, assumem o papel de um inventário dos nossos deslocamentos pelo litoral.
Marestesia faz parte de um projeto maior chamado Google Water, que consiste em deslocamentos que fazemos até cidades que tem a água, de alguma forma, no nome. Mapeamos estes locais e então partimos com a finalidade de realizarmos uma ação temporária ou algum tipo de registro que vá gerar um desdobramento do trabalho. Nesta mostra, estão os resultados das visitas feitas à praia da Barra da Lagoa, em SC

Sobre os trabalhos:
O remêmoro – a câmera parada, uma lembrança momentânea e sem cortes de uma manhã de janeiro.

Grandes Eventos - Dirnei Prates
foto: Igor Sperotto
Grandes eventos – uma bandeira vermelha, um navio ancorado, um mirante. As balizas diárias que se erguem contra a horizontalidade desta tarde, são iscas que prendem meu olhar. Penso num filme de Jarman.*

Grandes acontecimentos – o mar e seu movimento imprecisamente constante. O mar nunca é igual. Folhear o livro é tentar traduzir a situação de inconstância das marés.

Mar passando – o mar passou por aqui a menos de 10 minutos.

Águas de maio – à noite, sob a chuva, é preciso bem mais do que um simples olhar. Percebo o vai e vem dos transeuntes e a poça d'água. Todos os sentidos e experiências anteriores estão convidados para este momento.


Azul profundo – no fim da tarde do fim do verão, o mar, de tão intenso, absorveu os incautos surfistas. O que antes era certeza, agora é uma melancolia azul-profundo que aos poucos me envolve.
*Journey to Avebury, 1971

Azul Profundo - Nelton Pellenz




















Marestesia , registros da abertura

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Registro da abertura da exposição Marestesia, do Cine Água na Fundação Ecarta, dia 18.06.2011.
As imagens foram feitas com câmera Lomo Diana F, filme 35mm e flash com gelatina colorida.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Marestesia

Parece-nos que disparadas são inúteis.
Correr ou fruir o percurso, sob o ponto de vista do tempo, é a mesma coisa. Estamos então, numa auto pista, sem noção do tempo que nos espera; somente com uma noção de certeza da chegada, invariavelmente no momento da chegada, e em nenhum outro momento.
Sentamos sob a sombra desta palmeira, deitamos na cama macia dos dias de chuva, somos refrigerados pelo ar condicionado do carro que nos leva para o mar, fumamos cigarros, experimentamos levezas percorrendo dunas meio enluaradas nas noites de verão.
Sentimos a porta aberta e é necessário que haja um momento de inércia para que as coisas simples e cotidianas destes momentos entrem por esta porta, e possam ser sentidas com toda a sua carga.
O mar nos contempla, o sol sob a cabeça, o dia está mais azul... nós sentimos.

Dirnei Prates e Nelton Pellenz



quarta-feira, 18 de maio de 2011

Águas em Jataí

Hoje, às 20 horas, aconteceu a abertura do 10º Salão Nacional de Artes de Jataí, Goiás, no Museu de Arte Contemporânea . O vídeo "águas de maio", de Nelton Pellenz, é um dos 17 selecionados desta mostra, que contou com Luciana Martini (GO), Henrique Lima (SP) e Rogério Flori (GO) na Comissão de seleção. A exposição segue até o dia 28 de agosto.
Você pode ver o vídeo aqui.

sábado, 23 de abril de 2011

Livre. Há 50 anos.

O Atelier Livre da Prefeitura completou 50 anos neste mês e promoveu uma série de atividades. Entre oficinas, residências com artistas e algumas exposições, as ações resgatam o percurso do Atelier Livre como lugar de convivências, experimentações e discussão da produção artística de Porto Alegre. Fazendo parte das comemorações, no dia 19 de abril, no Santander Cultural, inaugurou a exposição “Livre. Há 50 anos”, cujo mote era a realização de um trabalho a partir de um par de velas enviadas aos artistas, dentre os quais, Dirnei Prates, do Cine Água.
"Entrei pro Atelier Livre como aluno em 2000, fazendo Eletrografia com Mara Caruso e, em 2002, litografia com Miriam Tolpollar. Foi um período muito rico de contato com outros jovens artistas e muitas expectativas com relação à arte. Trabalhei no Atelier durante três anos, período em que comecei a produzir e participar de mostras e salões mais efetivamente. Participar desta mostra só reafirma minha relação com este ambiente de produção que, de certa forma, balizou minha trajetória como artista."
Longa Vida ao Atelier Livre!
Dirnei Prates

50 anos - fotografia - Dirnei Prates

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Neste outro lugar em Santo André

O 39o. Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto, de Santo André - SP, com abertura no dia 28 de abril, às 20 horas, tem entre seus selecionados Nelton Pellenz, que participa com o trabalho em vídeo "Neste outro lugar".
A comissão julgadora foi composta pelo críticos de arte Oscar D'Ambrósio, Enock Sacramento e José Armando Pereira.
Utilizando um enquadramento muito próximo do chão, o vídeo recria no litoral uma paisagem árida, desolada, quase lunar, onde uma pequena faixa no horizonte é o palco de estranhos acontecimentos. Nesta paisagem, cuja escala é alterada pela posição da câmera, o único movimento é feito por transeuntes que surgem e desaparecem como alvos de games interativos. A sensação de outro lugar é reforçada pelos sons metálicos e pela falta de referências situacionais.
O vídeo pode ser visto aqui


                                                                         Frame do vídeo "Neste outro lugar"
                                                                              

sábado, 16 de abril de 2011

V Prêmio Açorianos de Artes Plásticas


imagem do vídeo " debaixo d"agua tudo é muito mais bonito", de Nelton Pellenz na galeria Lunara
 

imagem do site specific "água doce", de Dirnei Prates na Galeria Lunara
 


No dia 8 de maio, acontece a cerimônia de entrega do V Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, em Porto Alegre. O Cine Água, mais uma vez foi indicado e concorre pela exposição "Cine Água", realizada na Galeria Lunara, na Usina do Gasômetro, em 2010.

Abaixo, a relação de todos os indicados:

DESTAQUE EM PINTURA
Cláudia Barbisan, com a exposição “Que isto fique entre nós” no Museu do Trabalho
Elton Manganelli, com a exposição “Pintado” na Galeria Arte&Fato
Gelson Radaelli, com a exposição “Tormenta” na Galeria Iberê Camargo
Marilice Corona, com a exposição “En Abyme” no Espaço Cultural ESPM

DESTAQUE EM ESCULTURA
BonGiovanni, com a exposição “Arparadores” no Atelier Subterrânea
Carusto, com a exposição “mamilos in memoriam” na Jabutipê
Chico Machado, com a exposição “Dispositivos Sônicos” no Museu do Trabalho
Patrício Farias, com a exposição ‘Confesso que vivi’ na Bolsa de Arte

DESTAQUE EM DESENHO
Carlos Asp e Gerson Reichert, com a exposição “Diálogos ampliados” na Sala da Fonte no Paço Municipal
Dione Veiga Vieira, com a exposição “Trabalhos Sobre Papel” na Galeria Gestual
Elida Tessler, Fernando Lindote, Gisela Waetge, Jailton Moreira e Maria Lucia Cattani, com a exposição“Era uma vez desenho” na Ecarta
Hélio Fervenza, com a exposição “Traveling: Atelier” no Atelier Subterrânea
Rogério Severo, com a exposição “Linhas de espera” no Porão Paço Municipal

DESTAQUE EM CERÂMICA
Não houve indicações

DESTAQUE EM GRAVURA
“Coleção do Consórcio de Gravuras” na Pinacoteca Barão do Santo Ângelo IA/ UFRGS
Jander Rama, com a exposição “(im)prováveis” na Usina do Gasômetro
Rafael Pagatini, com a exposição “Interiores” no Studio Clio e “ Brumas”no Instituto Goethe

DESTAQUE EM FOTOGRAFIA
Adauany Zimovski, com a exposição “Paisagem Pragmática” no Instituto Goethe
Amélia Brandelli, com a exposição “Através” no Instituto Goethe
Letícia Lessa, com a exposição “Distopia da Cidade Invisível” na Galeria do 4º Andar na Usina do Gasômetro
Martin Streibel, com a exposição “Partículas” na Galeria Iberê Camargo no MARGS

DESTAQUE EM MÍDIAS TECNOLÓGICAS
Bruno Borne, com “Sessão invertida” na Galeria Lunara na Usina do Gasômetro
Dirnei Prates e Nelton Pellenz, com “Cine Água” na Galeria Lunara na Usina do Gasômetro
Elaine Tedesco, com vídeo intervenção nos Jardins do DMAE, Simpósio internacional arte.mov

MELHOR EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL
BonGiovanni , com a exposição “Arparadores” no Atelier Subterrânea
Chico Machado, com a exposição “Dispositivos Sônicos” no Museu do Trabalho
Maria Inês Rodrigues, na Sala Arquipélago no Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo
Martin Streibel, com a exposição “Partículas” na Galeria Iberê Camargo no MARGS

MELHOR EXPOSIÇÃO COLETIVA
Convivências - Dez Anos da Bolsa Iberê Camargo na Fundação Iberê Camargo
Elida Tessler, Fernando Lindote, Gisela Waetge, Jailton Moreira e Maria Lucia Cattani, com a exposição“Era uma vez desenho” na Fundação Ecarta
Guilherme Dable, Gerson Reichert, Túlio Pinto, com a exposição “Espaços compartilhados” na Galeria Gestual

ARTISTA REVELAÇÃO
BonGiovanni, com a exposição “Arparadores” no Atelier Subterrânea
Bruno Borne, com a exposição “Seção Invertida” na Galeria Lunara na Usina do Gasômetro
Rafael Pagatini, com a exposição “Interiores” no Studio Clio e “Brumas” no Instituto Goethe
Rogério Severo, com a exposição “Linhas de espera” no Porão do Paço Municipal

DESTAQUE DE ESPAÇO INSTITUCIONAL, PÚBLICO OU PRIVADO, DE DIVULGAÇÃO ARTÍSTICA
Atelier Subterrânea
FundaçãoEcarta
Galeria Gestual
Instituto Goethe
Studio Clio

DESTAQUE EM PROJETO ALTERNATIVO DE PRODUÇÃO PLÁSTICA
Cowparade nas ruas de Porto Alegre
Exposição AUTOCHOQUE – Um Ensaio Sobre Impactos, com Laura Cattani & Munir Klamt (grupo Ío), Dione Veiga Vieira, Félix Bressan, Élcio Rossini e Paulo Mog, na Usina do Gasômetro
Projeto 3 x 4 Vis(i)ta, de Mário Röhnelt
Videos Arte, nos jardins do DMAE

DESTAQUE EM TEXTOS, CATÁLOGOS E LIVROS PUBLICADOS
Catálogo Chico Lisboa
Livro “Convivências – Dez Anos da Bolsa Iberê Camargo” - Jailton Moreira
Livro “Horizonte expandido” - Maria Helena Bernardes e André Severo
Livro “Obras e Escritos” - Heloísa Schneiders da Silva, org. Mônica Zielinsky
Livro “Subterrânea” - Lílian Maus (org), Adauany Zimovski, Gabriel Netto, Guilherme Dable, James Zortéa e Túlio Pinto (co-organizadores).

DESTAQUE EM CURADORIA
Jailton Moreira, exposição “Convivências” na Fundação Iberê Camargo
Maria Helena Bernardes e André Severo, exposição “Horizonte Expandido” no Santander Cultural

PATROCÍNIO E/OU APOIO A EVENTOS LIGADOS ÀS ARTES PLÁSTICAS
Fundação Iberê Camargo
Instituto Goethe
Koralle
Santander Cultural
Sinpro

DESTAQUE EM ACERVO/ MEMÓRIA
Danúbio Gonçalves, “Aos Grandes Mestres” no Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo
Franca Taddei, “Pinturas” na Sala Paulo Osorio Flores, na Casa Torelly
Henrique Fuhro no MARGS
Pedro Weingärtner, no MARGS

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Peço-lhe que volte, premiado no MFL 2011

Em março, a Mostra do Filme Livre completou 10 anos. A MFL , que desde 2002 firmou o compromisso de diluir fronteiras no audiovisual , apresentando em suas mostras filmes independentes com o frescor da experimentação, este ano faz uma potente retrospectiva com obras de realizadores como Luiz Rosemberg Filho, Camilo Cavalcante, Andrea Tonacci, Helena Ignez, entre tantos outros. O curta “Tripulante”, de Dirnei Prates, feito a partir de antigos fragmentos de imagens captados em VHS, foi o vencedor da mostra em 2008 e participa desta grande retrospectiva.
"Tripulante" pode ser visto em
http://www.curtaocurta.com.br/curta/432/

imagem de peço-lhe que volte e fique contente de Dirnei Prates
assista o vídeo aqui


























O Cine Água também participou da programação da mostra de 2011 na sessão Pílulas, com filmes de até 4 minutos de duração. Nelton Pellenz apresentou o delicado “Porto”, de 2009, um filme sobre saídas e chegadas, onde a desaceleração é o convite para a viagem, e Dirnei Prates, com a apropriação de imagens do filme “Limite”, em “Peço-lhe que volte e fique contente”, de 2009, recebeu o prêmio de melhor filme, definido pelo júri da ASCINE-RJ. Os dois filmes também participaram da exposição “Infiltração”, que aconteceu em Porto Alegre em 2009, e que em 2010 foi premiada com o troféu Açorianos de Artes Plásticas.
Mais detalhes sobre a premiação em
http://www.mostradofilmelivre.com/noticias/2007/

Abaixo o trecho do texto extraído do site da mostra:
O QUE É A MOSTRA DO FILME LIVRE?
Um evento experimental como os filmes que gosta de exibir. Uma mostra que não se importa de inventar modas a cada edição, seja bolando sessões exóticas ou fazendo filmes em formatos esdrúxulos em suas oficinas, promovendo noites livres e sessões com apito para o público acelerar ou mudar o filme, ou quem sabe dando o troféu aleatório, obviamente sorteado ao léu. Assim tem sido a MFL, a cada ano diferente em seus detalhes, mas sempre, sempre, com a mesma vontade que motivou o seu nascimento, em 2002: a de mostrar filmes que fujam correndo do lugar-comum.
O principal objetivo da MFL é a exibição de filmes livres e a multiplicação de olhares mais atentos ao que se tem feito “audiovisualmente” no mundo brasileiro. Por isso exibe filmes feitos em todos os suportes (VHS, Beta, Minidv, HD, 35mm, 16mm, celular, entre outros), formatos (curtas, médias e longas-metragens), de todos os gêneros (ficção, documentário, animação e experimental) e feitos em qualquer época. É um tipo de mostra única no Brasil, já que não faz restrições de espécie alguma com relação às obras inscritas. E a cada ano a curadoria define os filmes que possuem maior diferencial para serem mostrados ao povo e premiados.
Em 2011 a curadoria da MFL 2011 foi de Chico Serra, Gabriel Sanna, Guiwhi Santos, Juliano Gomes, Marcelo Ikeda e Raphael Fonseca.
Mais MFL em
http://www.mostradofilmelivre.com/11/