sábado, 20 de abril de 2013

Conjunto Habitacional

Está acontecendo na Fotogaleria Virgílio Calegari, na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, a exposição Conjunto Habitacional, de Nelton Pellenz. A exposição, contemplada pelo 2o Prêmio IEAVI - Incentivo à produção de Artes Visuais, está aberta para visitação até o dia 28 de abril (domingo); na segunda-feira, a galeria abre às 14h, de terça a sexta, às 9h e sábado e domingo, às 12h, fechando todos os dias às 21h.

A seguir, algumas fotos da exposição, de alguns trabalhos e o texto escrito pela professora-pesquisadora do IA/UFRGS e crítica de arte, Paula Ramos sobre o projeto:

Inversões noturnas

De dia: os edifícios, suas dimensões, cores e formatos ajudam a configurar a percepção que temos das cidades. À noite: quem o faz são as luzes, vindas dos carros a trafegar pelas avenidas, dos postes iluminando as ruas e, principalmente, das janelas dos apartamentos ocupados. É então que, através dessas aberturas, o privado torna-se público. Como vitrines, as janelas passam a exibir fragmentos da vida particular, invertendo uma das lógicas da casa ou do espaço habitado, que é de resguardar a privacidade de seus moradores.

Em Conjunto Habitacional, Nelton Pellenz reforça essas questões. Muitas das imagens foram feitas a partir de seu apartamento, em Porto Alegre; outras, de quartos de hoteis em São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis. Ao apresentá-las numa Galeria Virgílio Calegari de paredes enegrecidas e iluminação difusa, o artista ensaia uma instalação e convida o espectador a vivenciar a sutil sensação de estar, também ele, num quarto de apartamento, com vista para as mesmas situações que lhe mobilizaram. Vultos em contraluz, planos de cor, transparências, movimentações e ritmos noturnos despontam, mas sem qualquer curiosidade de natureza indiscreta. O que interessa a Pellenz é explorar as questões relacionais entre espaços públicos e privados, discutindo a inversão de legibilidade que ocorre à noite, quando as linhas arquitetônicas das cidades desvanecem e novos grafismos se revelam, oriundos, em grande medida, dos ambientes particulares. Para evidenciar essa percepção, o artista explorou recursos técnicos bastante simples, como o tempo de exposição do obturador. Com isso, reduziu ainda mais a visibilidade das áreas externas, valorizando os pontos luzentes, ou seja, as janelas das residências.

Reconstruindo o urbano pelo fotográfico, Nelton Pellenz, que vem de uma sólida e respeitada trajetória com o vídeo, assume a fotografia como instrumento de invenção. Nesse sentido, é fundamental observar a relação formal e conceitual que ele sugere. Afinal, suas vitrines silenciosas apresentam-se no formato mais tradicional e acessível da fotografia, o 35 mm; e, tal como a fotografia, elas só se tornam possíveis com a luz.


Paula Ramos
Crítica de arte, professora-pesquisadora do Instituto de Artes da UFRGS

Habitat # 3 - fotografia - 75 x 100 cm
Habitat # 12 - fotografia em back light - 50 x 75 cm

Conjunto Habitacional - fotografia - 100 x 150 cm

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